Madame Tussauds

Para quem não sabe, a Revista Piauí promove todo mês um concurso literário. A idéia é pegar uma frase bizarra e encaixá-la num texto, de preferência fazendo algum sentido; o melhor texto é publicado na revista. A frase do mês de setembro era O convite para virar estátua no Madame Tussauds lhe chegou em boa hora.

Escrevi um texto, enviei e perdi. Obedecendo à minha grande amiga pregüiça, ao invés de um post normal, hoje vocês terão o prazer de correr os olhos sobre meu texto.

Oba!

Viver é o Verdadeiro Terror

A jovem corria, gritando, pela floresta. Olhando para trás, só via um vulto enorme a perseguindo, obstinado. Respiração ofegante, coração rasgando o peito, cada passo uma facada na perna ferida. Mas não podia parar. Se fracassasse, a morte dos amigos teria sido em vão. Mas o vulto era implacável em sua ferocidade. Cada vez mais perto, mais assustador. Ela já sentia seu hálito quente e fétido na nuca, quando um curto apagou metade da iluminação do estúdio.
– CORTA!
Marc esfregou o rosto em frustração.
– Dez minutos de descanso, – rosnou o diretor.

Marc Patel estava no limite. Quase quarenta anos dirigindo filmes de terror, e sempre a mesma coisa. Eternamente às margens do circuito de cinema de verdade, relegado sempre à prateleira menos visitada da locadora, precisando se contentar com a gratidão apaixonada do pequeno grupo de fãs de filmes que se resumem a uma gostosa gritando enquanto foge de um vulto enorme.

Suspiro.

Seus desejos não eram extravagantes. Não precisava de um Oscar ou uma Palma ou um Leão, só de algum reconhecimento. Um sinal qualquer, algo que dissesse "Marc, os últimos 37 anos não foram jogados na privada, campeão!". Estava esperando há décadas, e finalmente cansou. Cansou de tentar assustar adolescentes e de ter úlceras. Decidiu se aposentar.

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Deitado na banheira, Marc refletia.

Reportagens sobre a aposentadoria de um dos grandes gênios do terror. Um documentário sobre a vida do maior diretor do gênero, Marc Patel. Festas. Autógrafos. Homenagens. Quase tudo que ele sempre sonhara. Menos um detalhe, aquele toque final para tudo encaixar nos moldes de seus sonhos mais secretos. O convite para virar estátua no Madame Tussauds lhe chegou em boa hora. Agora estava pronto, agora era imortal.

Matou a garrafa de champanhe no bico, sorriu para ninguém e, delicadamente, soltou o secador de cabelos ligado dentro d'água.

Quando encontraram o mestre do terror, estava inchado na banheira, os lábios arroxeados fixos num sorriso de feliz contentamento.

5 comentários:

Anônimo disse...

NÃO GANHOU PORQUE É RUIM MESMO.

Anônimo disse...

Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar. ;)

Perder não é vergonha, Matatinhas. Uma revista se chamar "Piauí" é que é vergonha.

groselha disse...

matias, faça isso todo mês.
saintcahier, não fale mal da piauí.

Anônimo disse...

Não falei mal da Piauí, groselha, falei mal do nome da Piauí.

Muitas vogais e poucas consoantes, toponímico empregado em contexto duvidoso, sei lá, essas coisas...

Muito pé-no-riacho para o meu gosto.

Vicente Celestino disse...

A Piauí é legal. Fudido mesmo é o Piauí. O cara da Philips é que está certo.