Deixei meu sapatinho na janela do Pinel

Quando vai chegando o Natal, fim de ano e essa merda toda, as pessoas ficam retardadas. Gastam toneladas de dinheiro e tempo comprando camisas feias para pessoas que, supostamente, amam. Nada como se endividar para seu primo poder falar “putamerda, que presente escroto” no dia 25.

Todo ano é a mesma coisa. “Vou fazer as compras de Natal em novembro, para não enfrentar fila!”. Todo ano é a mesma coisa. Dia 22 de dezembro tá lá, igual a um idiota, correndo pelo shopping lotado de outros idiotas. Roubam sua vaga no estacionamente, alguém pisa no seu pé, uma velha escrota passa na sua frente na fila, você estoura o cartão de crédito. Que delícia, deve ser aquele espírito de Natal do qual tanto se fala. Exu de Natal, só se for.

Não vou sugerir nada alternativo para ninguém, tipo “plante uma árvore pela sua família” ou algo idiota assim. Já aprendi a não lutar contra a estupidez humana, dá muito trabalho. Tentar convencer pessoas a serem racionais e razoáveis é trabalhoso e infrutífero. Além disso, tenho esperança que meu sonho de Natal se realizará. Algum dia, depois de 4 horas procurando um boneco do Power Rangers pro filho, alguém vai surtar no Shopping e começar a quebrar tudo. Dado o estado de tensão e desespero das pessoas, é natural que espalhe e se transforme num pandemônio de classe média enfurecida, destruindo vitrines, roubando TVs de plasma, tacando fogo nas Lojas Americanas.

Eu vou estar em casa vendo na televisão, porque, este ano, já decidi como economizar tempo e dinheiro. De quebra, fazendo algo bom para o Brasil. Isso mesmo, um presente de Natal engajado! Um presente de Natal que, além de extremamente útil, é ecologicamente correto, socialmente responsável e benéfico a todos. Prova que, mesmo na época mais egoísta do ano, alguns ainda se preocupam com os outros.

Vou dar uma mendigo louco de presente para cada amigo meu.

A logística é simples. Alugo uma van, compro uma garrafa de pinga e um maço de Derby para servir de isca e saio pela cidade recolhendo aquelas criaturas de dread no cabelo e roupas de saco plástico falando sozinhas por aí. Depois, é só levar no quintal, dar um banho de mangueira e embrulhar.

Dar mendigos de presente vai ser o novo must do Natal/2007. Além de baixa manutenção (um pouco de pinga, uns cigarros e um PF sustentam o mendigo durante dias, e deixam seu pêlo brilhante e macio), mendigos têm várias funções. Seu próprio mendigo sentado no chão da sala dá assunto para qualquer reunião de amigos, além de servir de mesa de centro.

No dia-a-dia, pode ser usado como alternativa à televisão, cada dia mais insuportável. Imagine que delícia, a família inteira reunida na sala se divertindo com as imaginativas histórias do seu próprio mendigo. Papai, pede pra ele contar de novo a história de como o governo colocou um rádio na cabeça dele para controlar o que ele pensa! Não, papai, eu quero ouvir da vez que o outro mendigo roubou a última pedra dele e ele teve que chamar um demônio de oito cabeças para pegar de volta!

Mostre o que acontece com quem não presta atenção na escola e veja seus filhos estudarem com mais afinco. Seja a inveja da vizinhança, com seu próprio mendigo. Descartável, reciclável e biodegradável, é o presente perfeito, e é minha escolha para presentear meus entes queridos este ano. Vocês que se cuidem.

Deus e Duendes

Um dia ouvi, por acaso, uma discussão, cujo fascinante tema era o adesivo ACREDITO EM DUENDES. A conversa em si era ridícula; aparentemente o encontro de duas mentes resultando de várias gerações de primos reproduzindo. Já o tema é mais saboroso que uma menina de 17 anos (pensei em subir para 18, para evitar parecer doente, mas na hora desisti. Pelo menos não falei 15, igual ao Nélson Rodrigues). Isso porque, para a maior parte da população, é muita petulância rir de um adesivo ACREDITO EM DUENDES. A maior parte da população acredita em Deus, que é quase a mesma coisa.

A vantagem que Deus tem sobre os Duendes é respaldo histórico. Ambos são figuras imaginárias, criadas por seres humanos perturbados, ou com um senso de humor por demasiado sutil para o consumo geral. Ambos possuem supostos poderes. Ambos são celebrados em adesivos de para-choques. A grande diferença é que ainda não presenciamos genocídios em nome de Duendes, nem inquisições, tortura e apedrejamentos. O máximo da fúria dos Duendes é uma experiência desagradável com ácido lisérgico. A real semelhança é quando alguém me fala que acredita em um dos dois, penso a mesma coisa: “Esse cara é um retardado.”

A grande pergunta é, se já temos Deus, por quê surgiram os Duendes? Por um motivo muito claro. Vivemos numa era de consumismo desenfreado e escolhas aparentemente infindáveis. Tudo existe em P, M e G, em verde relaxante, vermelho rubi ou azul celeste. Temos opções para tudo, do tamanho do refrigerante ao estofado do carro. O principal efeito disso, não contando esquizofrenia e incapacidade de tomar a mais simples das decisões, é o conceito de que tudo serve para algo, mas nada serve para tudo. Não precisamos nos contentar com pacotes fechados, podemos montar nosso próprio sanduíche.

Esse admirável mundo novo não se contenta com um Deus qualquer, um ser polivalente e único. Não acreditamos mais que um ser possa resolver tudo (ainda mais um ser que folga aos domingos). Estamos à beira de uma nova era de politeísmo; é o momento de escolher um deus para cada momento. Claro, não podemos apenas abraçar panteões do passado e esperar contentamento. A tecnologia já resolveu a maior parte dos problemas práticos; não precisamos de deuses para caça depois de supermercados e delicatessens, e qualquer navegação se beneficiaria mais com um GPS que um deus. A contemporaneidade pede deuses mais especializados, como Fuzilânio, deus das balas perdidas, e Rotatívio, o das vagas no centro.

Até os eternos, como Amor e Guerra, precisam de alguns tweaks para se adequarem aos dias de hoje. Divorcênia, a deusa do segundo casamento e Baladínio, o deus para conseguir rebocar alguma bêbada para casa de madrugada são os mais óbvios, assim como Iugoslávido, deus de pequenas guerras civis e Samfrônio, deus de invasões aleatórias dos EUA a países subdesenvolvidos. Podemos até colocar um duende no meio, só para agradar aos fritados de ácido ainda perambulando por aí. Duendes podem ser os deuses protetores das sandalinhas de couro, evitando que as tiras rasguem.

Uma reforma completa do antigo politeísmo cai bem; a única coisa que pode permanecer continuar intocada são os sacrifícios, a parte realmente divertida de ter uma cacetada de deuses egoístas e falhos, competindo pela nossa idolatria. Seja mil anos antes de cristo ou semana que vem, sacrificar virgens num altar é sempre válido. Sem contar que vai gerar um desespero tão enorme em garotas de 17 anos para perderem a virgindade que o mundo se tornará um lugar bem mais divertido.

No Milk Today

Peço perdão aos fiéis leitores, mas hoje não tem post. Motivo? Comecei a escrever um post sobre por que não acreditar em Deus e outros assuntos igualmente inúteis, e ainda não consegui terminar. Ao invés de colocar qualquer porcaria pela metade, como costumo fazer, decidi esperar.

Não se preocupem, terça-feira estamos de volta, com algo realmente especial.

Teoria Triplo D

A vida é difícil. Vamos lá, você sabe que é verdade. Precisamos nascer, viver, amar, trabalhar, pagar imposto de renda e fingir interesse na hérnia de disco do seu tio-avô. Não é fácil, sem contar que alguns ainda têm problemas de verdade, tipo subnutrição, esquizofrenia e tios molestadores.

Os outros seres vivos do planeta também sofrem, mas os humanos têm a desvantagem de serem conscientes e pensarem (alguns, pelo menos). A única coisa que isso gera é sofrimento e frustração. Não só vivemos numa sociedade em que fracasso e violência nos aguardam dobrando cada esquina, mas ainda por cima precisamo saber disso.

Por esses e outros motivos, os seres humanos precisam de algo para aparar as arestas da vida cotidiana. Tudo que faz isso encaixa em um dos três Ds (como escrevo essa porra? Três Dês? Três “D”s?). Os três letra “D” no plural são, respectivamente mas em nenhuma ordem específica, Deus, Droga e Dinheiro. Alguma coisa precisa amaciar a existência, e cada um escolhe o mais adequado para seu estilo de vida. Quem não tem um, usa um dos outros, ou até dois. Deve ser possível usar os três, mas puta merda, haja angústia existencial.

Não acredita? Mostre um servente de pedreiro que não seja crente ou bêbado ou ambos, um ateu que não seja rico ou drogado ou ambos. O D de cada um não é eterno; muitos trocam várias vezes durante a vida. É o caso de bêbados/drogados que encontram Jesus. Muitas vezes, um dos Ds é usado para eliminar outro, como no caso de afluentes que cheiram tanto que acabam precisando vender o rabo na rua para sustentar o vício, até encontrar Jesus (de novo, o filho da puta escondido por aí). Trocas involuntárias e inconscientes são trocas do mesmo jeito, e, infelizmente, muitas levam para o D mais nocivo de todos, Deus.

Dinheiro resolve os próprios problemas que cria; os riscos maiores são ficar rico a ponto de ser sequestrado ou ser morto pelos filhos gananciosos no caso de longevidade excessiva. O primeiro é resolvido pagando o resgate ou contratando um monte de seguranças, e o segundo é resolvido com uma vasectomia ou um aborto. No entanto, dinheiro é difícil de conseguir e nem sempre resolve sozinho, e muitas vezes os ricos precisam de drogas

Drogas são, de longe, o D mais eficiente. Não estamos falando de uma cervejinha no fim de semana, estamos falando de dois gramas de pó e oito doses de algo por noite. É difícil contemplar as sutilezas do existencialismo quando você está tão travado que nem lembra mais o próprio nome. Drogas, infelizmente, drenam o Dinheiro e acabam levando de volta ao temido Deus.

Deus é onipotente, onisciente e onipresente, mas mesmo assim precisou de 6 dias para fazer essa merda, e ainda precisou descansar depois. Além de ser tão inseguro sobre o próprio poder que precisa de um monte de pessoas vigiando as ovelhinhas; pastores berrando estupidezes sem sentido para massas ignorantes e arrancando um naco do parco salário daquele bando de analfabetos ou padres velhos e gordos bebendo vinho e estuprando meninos de oito anos de idade.

Mas Deus não é só roubo e pedofilia, existe um lado positivo, o de controle social. A passividade e resignação geradas por religião organizada e o sistema escolar risível do Brasil permitem que as coisas continuem fluindo do jeito que estão. Um povo analfabeto e religioso não questiona, não pensa, não critica e não entende. Mesmo as atrocidades governamentais tão absurdamente óbvias que acabam escorrendo até o consciente do povão são rotuladas de “o mundo é do jeito que é” e esquecidas. Os outros D também têm lados positivos. Drogas cuidam de controle populacional, e Dinheiro, bem, Dinheiro é Dinheiro.

Mesmo com um leque razoável de opções, todas deixam algo a desejar. Como alternativa, existe a quarta opção, o D para iniciados. D de Desprezo; é duradouro, gratificante e definitivo. Mas, apesar de quase perfeito, não é simples. É necessário um talento inato para, mesmo sem qualquer evidência, se achar tão melhor que o resto da humanidade. Afinal, a suposta superioridade precisa ser tão firme e enraizada que torne a existência suportável. Considerar-se superior e rir da estupidez colossal do resto do mundo mantém o motor humano bem lubrificado e rodando macio, sem engasgar.

Talvez algum a cruel realidade venha à tona e a casa de cartas caia, mas até hoje não tive problemas.

R$ 0,25

O fenômeno dos guarda-chuvas perdidos está mais que bem documentado (é uma conspiração enorme conectada à misteriosa multiplicação de clips de papel no fundo da gaveta), mas muito pouco tem sido dito sobre sapatos avulsos rolando pelo mundo.

Uma vez, há muito tempo, deixei cair uma moeda de 25 centavos no chão. Ao abaixar para recuperá-la, vi o pé esquerdo de um par de sapatos. Estava dentro de um canteiro quadrado que deveria conter apenas uma árvore, e não uma árvore e um pé esquerdo de um par de sapatos. Achei estranho, imaginei que o pé direito estivesse por perto. Procurei rapidamente nas redondezas, sem sucesso.

Desde esse dia (conhecido como O Dia Em Que Meus Olhos Foram Abertos) tenho visto um número assustador de sapatos avulsos. Um par de sapatos na rua é algo claro e óbvio, significa que estão de tal forma destruídos que nem um mendigo gostaria de tê-los. Um único pé gera perguntas.

Se for um sapato que literalmente desmanchou no pé do antigo proprietário, é compreensível. Às vezes, a pessoa não queira se dar ao trabalho de arrastar aquele pé esquerdo até em casa, preferindo deixá-lo por onde caiu do pé mesmo. Mas, quase sempre, são pés esquerdos (ou direitos) perfeitamente utilizáveis ainda, sem qualquer falha estrutural evidente.

Ando ficando bastante deprimido por causa dos sapatos na rua, porque a única explicação que consigo encontrar é que saiu do pé do indivíduo e por algum motivo foi deixado. Isto é, o cara não parou para recolocar o sapato. Sabe, quando você tá andando com sapatos um pouco grandes demais e eles começam a escorregar e você precisa parar e dar aquela empurradinha de calcanhar para entrar direito? Ou quando a parte de trás "pega" em algum objeto e você tem que parar e calçar o sapato de novo? É super normal, você pára e calça o sapato de novo. Se você estiver embalado a ponto de não conseguir parar, o sapato sai voando, você fica envergonhado mas volta, pega e calça, não? Ninguém continua correndo para pegar o ônibus e abandona um pé do par alí, no meio da rua, não é?

Aparentemente, existem muitas pessoas com vidas tão excitantes, divertidas, leves, alegres e emocionantes que sapatos não importam. Pessoas felizes, satisfeitas e tranqüilas a ponto de perder um sapato sem culpa. Apenas sorriem e continuam. Provavelmente existem milhares de coisas melhores a fazer que pegar o pé perdido do sapato! Com certeza não é sem um leve prazer arrogante que a pessoa deixa o pé esquerdo (ou direito) para trás. Como quem diz, pff, sapato? Que coisa mais mundana...

Existem pessoas tão elevadas e intrigantes andando por aí, agarrando o touro pelos chifres, flutuando no éter absortos em tecer sutis e elegantes filosofias existenciais, e nós aqui, abaixando para pegar moedinhas de 25 centavos.

Paul Rabbit

O texto de hoje deveria começar com um pedido de desculpas. Ao invés disso, vai começar com uma errata e um aviso, não nessa ordem. Vai terminar com um exercício prático. E vai ter um monte de palavras no meio.

Para evitar uma enxurrada de comentários de fãs de Paulo Coelho, o aviso. Se algum de vocês estiver lendo, pare. Sério, não é brincadeira. Pare agora. Feche a janelinha e não volte. Isso, ande com o mouse até o canto. Agora, clique.

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Aos que restam (e pensam, e têm um mínimo de bom senso, etc., etc., etc.), a errata e o exercício, além do monte de palavras no meio.

Na enquete do último post, onde lia-se "
decida o tema da próxima enquete", deveria constar "decida o tema do próximo texto". Erro que passou batido, e quase veio a calhar. Uma enquete sobre o Paulo Coelho (com assustadores 59% dos votos) poderia até ser engraçada e meio nonsense, mas e um texto inteiro?

O que existe para ser dito sobre Paulo Coelho em 500 palavras que já não foi dito? Todo mundo já sabe que os livros dele são lixo new age maquiado de subliteratura. Todo mundo já sabe que o sucesso internacional só comprova que o resto do mundo é povoado por gente tão idiota quanto o Brasil.

Mas, o que nem todo mundo sabe, é que ele não é picareta nem oportunista, ele é LOUCO. É um homem de 60 anos de idade correndo pelo mundo (e pelos corredores da Academia Brasileira de Letras) achando que é o Harry Potter. Pense nisso um pouco, antes de continuar.

Ele acha que conversa com anjos, e que é um Guerreiro da Luz, de acordo com seu site oficial. Um pouco assustador, mas suave. Doido manso. A verdadeira loucura vem à tona graças a Marilise, Lílian e Renata. A primeira Playboy que comprei foi em Outubro de 1992, com as trigêmeas na capa. Adivinhe quem foi o entrevistado? O Mágico de Oz em pessoa. Momentos impagáveis da entrevista:

PLAYBOY – O que você faz que uma pessoa normal não faz?
PAULO – Sei abrir buraco em nuvem, fazer chover [...] Sei também adivinhar pensamento, mas não é sempre. E também consigo não sair numa fotografia, mesmo que tenha sido clicado.

Gostou? Agora prepare-se, essa é boa. Tão boa que merece itálico e negrito.

PAULO – [...] Ah, eu também consigo ficar invisível, sem desaparecer. Ou seja, posso fazer com que as pessoas não me vejam, mesmo eu estando diante delas.

Ah, eu também quero ficar invisível sem desaparecer! Se ao menos ele explicasse como...

PLAYBOY – Como se faz isso?
PAULO – É fácil, basta contraír os dedos dos pés e, com as mãos, fazer uma espécie de sinal de positivo com o polegar lançado para a frente e depois sair andando. Ninguém vai te ver. Não sei a razão, mas ninguém te vê mesmo.

Bom, acho que depois de explicar, o mínimo seria uma demonstração, não?

PLAYBOY – Você poderia sumir agora?
PAULO – Sim, mas não faria isso porque seria exibicionismo.


Normalmente agora seria o momento de escrever mais alguns parágrafos criticando e ridicularizando o sujeito, mas nem tem graça. Nada pode superar a imagem de alguém, no meio de uma multidão, tentando andar com os dedos dos pés contraídos e o polegar em riste lançado para a frente. Se algo chega perto é imaginar as pessoas evitando olhar com medo de ser abordado pelo louco andando cambaleante fazendo "jóia" para todo mundo. Ou seja... ficou invisível, sem desaparecer!

Agora, a parte prática.
Mate e queime um pássaro branco hoje. De preferência, mais de um.

De acordo com o próprio mago, "
para começar um novo livro, estabeleci para mim mesmo um sinal - encontrar uma pena branca".

Pãos ou pães

Formular opiniões de forma racional e ponderada, seguindo uma moral própria acompanhada de uma filosofia pessoal de vida é tão entediante quanto se masturbar lendo a Bíblia. Bem mais atraente é decidir lá, na bucha, o que você pensa sobre determinado assunto.

Além de economizar tempo, permite ajustar suas opiniões para ofender um número maior de pessoas. Explicar para um grupo de feministas que você defende o aborto por ser direito da mulher controlar seu próprio corpo não gera nada interessante para contar depois. Mas tente argumentar, com o mesmo grupo, que se Deus quisesse que mulheres trabalhassem, não as teria feito tão emocionais e pouco objetivas. É de momentos como esses que são feitas as memórias.

Esse tipo de flexibilidade ideológica permite adequar seu discurso para fazer inimigos e irritar pessoas, mas pode tão facilmente te ajudar a fazer uma mesa inteira cair na gargalhada; as possibilidades de defesas hilárias para defender algo são maiores quando você não leva nada a sério.

Aliás, levar coisas a sério é sempre uma furada. Levar coisas a sério nunca trouxe qualquer benefício à humanidade, muito pelo contrário. Pessoas sérias e com opiniões formadas sobre assuntos importantes trazem atrocidades ao mundo, como o holocausto, terrorismo, guerras santas e cientologia. Pessoas sérias são um saco, não têm senso de humor e sempre matam qualquer conversa divertida.

Imagine como o mundo seria diferente se, por exemplo, Eichmann e Hitler tivessem sido mais descontraídos?

– Eich, – diria Hitler, – acho que está na hora de enchermos os trens.
Ja wohl, mein Führer! Mas não se esqueça... – diria Eichmann, sorrindo contente.
– Sim?
– Sabia-que-todo-viado-é-surdo? – cochicharia, embolado, Eichmann, contendo a risada.
– O que? Não ouvi bem. – responderia o Führer, perplexo. De repente, diante das gargalhadas de seu Obersturmbannführer, compreensão passaria pelo rosto do ditador alemão, que, por sua vez, cairia também na gargalhada.

Aí eles iriam a um boteco qualquer tomar schnapps de cereja e rir da vida, ao invés de sairem matando judeus e russos, e o mundo seria um lugar melhor. No mínimo seria um lugar sem um filme chato por ano sobre o holocausto.

Bichas Pobres

Bichas gostam de luxo. As ricas torram mundos e fundos com Dolce & Gabbana e Gucci, e as um pouco menos afortunadas, Zoomp e Forum. Adoram sair à noite e tirar onda, fingirem que sabem de todas as novidades de Milão e Paris, mesmo se não conhecem nem Buenos Aires. Curtem a vida adoidado e gastam loucamente; é só uma questão de quanto do orçamento pode ser destinado a roupas e saídas.

Mas tudo tem limite. Uma coisa é uma biba disposta a gastar uma nota comprando meia da Calvin Klein e sapato bico fino da Zara; pelo menos sobra alguma coisinha no final do mês para comer e comprar lubrificante. Mas e as bichas pobres de verdade? As que não podem comprar nem Sketch? Elas pertencem a dois universos diferentes; são as Empregadinhas e Glam Perifas.

As Empregadinhas são assustadoras; trabalham em lanchonetes, lojas de conveniência e padarias. Fazem a unha, desmunhecam horrores e são quase travas, tiram um pouco de onda, mas no fundo entendem que são pobrezinhas. Lêem Vogue com alguns meses de atraso, e tomam cerveja em butecos. Mas sempre com pose.

Já as Glam Perifas se acham. Trabalham em lojas de roupa e moram longe pra caralho. São bichinhas que não têm onde cairem mortas, mas tomam champanhe a noite toda, antes de pegar o busão vermelho de volta para casa. Juntam dinheiro meses a fio para terem um celular de mil reais (de cartão, sempre sem crédito) e um armário cheio de camisetas apertadinhas falsificadas do Empório Armani. Afinal de contas, toda vez que uma bicha compra camiseta da C&A, uma fada morre.

De acordo com um amigo meu, nos chats gays, antes mesmo de perguntar o tamanho do pau e se é "a ou p" (Ativa ou Passiva, para os leigos; Que Come ou Que Dá, para os REALMENTE leigos) as bichas querem saber em que bairro a outra mora, prova concreta de avaliação de status social. Por isso é que, para os pobres, os Americanos inventaram essa história de "homens que transam com homens". Porque Bicha mesmo, legítima, só rica.

Outrora

A vida, como regra geral, é muito entediante. Boa parte dos segundos, minutos e horas que preenchem cada dia é gasta desejando que os segundos, minutos e horas passem logo, para termos mais um dia. Por quê? Por que somos burros.

A vida é uma puta cara, e os segundos são infinitos pequenos cafetões, nos surrando por não podermos pagar. Já que é inevitável ficar velho e morrer, que tal um pouco de diversão antes do mergulho gelado da morte? Não é difícil ver quem entende. Velhinhos que dirigem rápido entendem, os que dirigem devagar, não. Se você tem setenta anos de idade, é bom chegar aonde está indo RÁPIDO, porque não estamos falando de alguém que pode planejar os próximos dez anos. Digamos que, depois de uma certa idade, a única garantia de pedir comida e estar vivo quando ela chegar é no McDonald's.

Mas uma boa parcela dos bilhões de bípedes que saltitam pela terra afora não vive pelo momento, e sim pela lembrança de momentos. São bombas-relógio de casos longos e chatos, prontas para entediarem qualquer um que caia na reta. Saudosismo é o último peido póstumo de um corpo que esqueceu de viver, e seus praticantes só perdem para Testemunhas de Jeová e Mórmons na lista dos grupos mais irritantes do planeta. Do PLANETA! Nada mal, para um aglomerado desorganizado de idiotas confusos e iludidos, não?

Agora, não pense que qualquer um pode ser saudosista; antes fosse tão fácil. Exige disciplina, desprendimento e falta de bom senso, igual pintar aqueles quadros de cavalo. É algo que não se aprende da noite pro dia; possivelmente da noite, pro dia, pra noite de novo.

É necessário destituir tudo que é atual de qualquer valor para glorificar um passado tão idiota quanto o presente. Isso nos obriga a engrandecer trivialidades e mistificar tolices. Nos obriga a lembrar de saídas frustrantes que só nos deram ressacas horrendas como grandes aventuras urbanas, e shows horríveis de bandas incompetentes como momentos pivotais na história da música.

Todos já passaram pela experiência horrenda de sentar à mesa com algum grupo de ex-amigos de colégio ou faculdade ou exército ou clube de swing ou seja lá qual for o grupo mais unido ao qual você já pertenceu. Ao invés de saírem e fazerem coisas e fabricarem novas memórias emocionantes e divertidas, as pessoas se agarram a versões engrandecidas de trivialidades passadas e ficam nessa, repetitivos igual almoço de natal de casa de vó.

Alguém começa a comentar sobre aspectos da personalidade de alguém durante a época em foco no momento, os Bons Tempos, digamos. Isso emenda num “Lembra aquela vez que”, que destrói qualquer chance de alguma conversa interessante e divertida, e transforma a noite num reviver de algum momento que provavelmente nem valeu a pena experimentar da primeira vez.

Impossível de participar; por mais que vasculhe minha memória, o único caso que me ocorre nestes momentos é a história de quando um peido meu esvaziou a sala na oitava série. Que nem lembro se é verdade, mas parece plausível.

Será que não há solução? Será que saudosistas são iguais a cristãos, absolutamente irrecuperáveis? Talvez. Mas não há necessidade de se sujeitar a uma sessão de tortura lembraquelavez. Experimente um teste simples, como perguntar sobre a vida atual das pessoas. Se não há nada emocionante para contar, talvez não exista mais nenhuma razão para se encontrarem. O que você quer com seus colegas de colégio, afinal de contas? Quer REALMENTE saber que o filho de um deles aprendeu a bater palminhas, ou ouvir um advogado contar piadas sobre o desembargador fulano que tem língua presa?

Ou prefere sair de perto, viver e não olhar pra trás? Lembre-se, qualquer pessoa que você vê tão pouco que precisa te contar casos do passado por falta de afinidade no presente é alguém que você só mantém como amigo se quiser estar por perto quando o casamento dele acabar e a ex-mulher estiver disponível.

E se você achou este final fraco, desculpe. Meus textos bons mesmo são os de alguns anos atrás; naquela época eu realmente escrevia bem. Ah, bons tempos.

Madame Tussauds

Para quem não sabe, a Revista Piauí promove todo mês um concurso literário. A idéia é pegar uma frase bizarra e encaixá-la num texto, de preferência fazendo algum sentido; o melhor texto é publicado na revista. A frase do mês de setembro era O convite para virar estátua no Madame Tussauds lhe chegou em boa hora.

Escrevi um texto, enviei e perdi. Obedecendo à minha grande amiga pregüiça, ao invés de um post normal, hoje vocês terão o prazer de correr os olhos sobre meu texto.

Oba!

Viver é o Verdadeiro Terror

A jovem corria, gritando, pela floresta. Olhando para trás, só via um vulto enorme a perseguindo, obstinado. Respiração ofegante, coração rasgando o peito, cada passo uma facada na perna ferida. Mas não podia parar. Se fracassasse, a morte dos amigos teria sido em vão. Mas o vulto era implacável em sua ferocidade. Cada vez mais perto, mais assustador. Ela já sentia seu hálito quente e fétido na nuca, quando um curto apagou metade da iluminação do estúdio.
– CORTA!
Marc esfregou o rosto em frustração.
– Dez minutos de descanso, – rosnou o diretor.

Marc Patel estava no limite. Quase quarenta anos dirigindo filmes de terror, e sempre a mesma coisa. Eternamente às margens do circuito de cinema de verdade, relegado sempre à prateleira menos visitada da locadora, precisando se contentar com a gratidão apaixonada do pequeno grupo de fãs de filmes que se resumem a uma gostosa gritando enquanto foge de um vulto enorme.

Suspiro.

Seus desejos não eram extravagantes. Não precisava de um Oscar ou uma Palma ou um Leão, só de algum reconhecimento. Um sinal qualquer, algo que dissesse "Marc, os últimos 37 anos não foram jogados na privada, campeão!". Estava esperando há décadas, e finalmente cansou. Cansou de tentar assustar adolescentes e de ter úlceras. Decidiu se aposentar.

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Deitado na banheira, Marc refletia.

Reportagens sobre a aposentadoria de um dos grandes gênios do terror. Um documentário sobre a vida do maior diretor do gênero, Marc Patel. Festas. Autógrafos. Homenagens. Quase tudo que ele sempre sonhara. Menos um detalhe, aquele toque final para tudo encaixar nos moldes de seus sonhos mais secretos. O convite para virar estátua no Madame Tussauds lhe chegou em boa hora. Agora estava pronto, agora era imortal.

Matou a garrafa de champanhe no bico, sorriu para ninguém e, delicadamente, soltou o secador de cabelos ligado dentro d'água.

Quando encontraram o mestre do terror, estava inchado na banheira, os lábios arroxeados fixos num sorriso de feliz contentamento.

Novela para quem não agüenta o tranco.

Novelas são uma bosta, e todos os envolvidos com tais atrocidades são vermes imundos que deveriam ser estuprados, esquartejados em praça pública e incinerados numa grande fogueira coletiva. Não necessariamente nessa ordem.

“Hoje vi duas pessoas conversando sobre um homicídio brutal e, ao prestar atenção na conversa, percebi que falavam da trama de uma novela” é como mentirosos começam a escrever textos criticando cultura de massa e entretenimento barato. Parece que é impossível falar do lixo cultural vomitado pelos canais abertos sem primeiro dar um tom de Manifesto pela Libertação do Povo Alienado por Televisão. Depois disso, para arrematar, vem algo como “não é a toa que o país está do jeito que está” e “como poderíamos esperar uma democracia séria em um país onde blá blá blá”.

Eu nunca começaria um texto assim. Começaria com um período categórico e simplista, e emendaria num resto de frase grotesco o suficiente para garantir comentários inflamados. Adoro quando alguém leva tão a sério algo que não levo nada a sério a ponto de escrever um comment repleto de revolta e indignação. Continuem escrevendo, cordeirinhos inocentes, que minha ereção egocêntrica triplica de tamanho cada vez que alguém fica cego de raiva com alguma idiotice que postei neste pequeno clube de fetiches da minha própria arrogância.

Depois, argumentaria de forma (quase) razoável, logo antes de criar uma metáfora de mal gosto.

Absorção de bens culturais é um processo complexo, que exige conhecimento prévio e, ocasionalmente, um tipo de personalidade específico. Parágrafos inteiros de Alta Fidelidade ficam sem sentido para quem não tem um mínimo de interesse por música pop de 1965 a 1996. Para ler Cat’s Cradle e entender o conceito de Bokononismo é imprescindível um senso de humor apurado e um pouco questionável.

Por isso é muitas vezes difícil compreender a fundo algo destinado a outros públicos, principalmente públicos mais informados. É igual sexo anal. Imagine Grande Sertão: Veredas como uma pistola enorme, e sua mente como um cu. Se for um rabo virgem e inexperiente, a entrada vai ser dolorosa e a fruição, zero. Agora, se o ânus mental já estiver arrombado e bem lubrificado, o Rosa escorregará para dentro sem o menor problema. Algumas coisas foram criadas para Cicciolinas intelectuais, cujas mentes não sentem nem cócegas com os membros diminutos e murchos da TV aberta. Já reparou como longa-metragens infantis sempre têm algumas piadas lascivas, exclusivas para os adultos? Os pimpolhos caem em gargalhadas com as besteiras mais inocentes, mas só os pais riem da putaria cuidadosamente colocada.

Paralelamente, novelas foram projetadas para mentes que, como as de pequenas criancinhas idiotas, não captam nada além do que lhes é mostrado de forma clara e direta. Mentes que não agüentam nada além de um micropênis cultura. As novelas são a quintessência da fantasia barata, repletas de justiça cósmica e resoluções para os problemas que, na vida real, seguem atormentando a quase todos. No fim das contas, coisas boas acontecem com pessoas boas e coisas ruins com pessoas ruins. Desafio qualquer um a citar uma novela que não tinha nenhuma menina pobre que acabou ficando com um rapaz rico no final, depois de muito sofrer nas mãos de alguma megera (que acaba morrendo, diga-se de passagem). Novelas são um sonho erótico budista, de tanto carma. Sempre há um equilíbrio final de todas as forças que atuaram durante o desenrolar do tépido festival de frases idiotas e situações óbvias e superficiais que as pessoas chamam de “trama” e eu chamo de 9 centímetros, duro.

Mas isso também é lindo. De verdade, é uma forma extremamente eficiente de entretenimento. Ajuda a suavizar a dor e o tédio da existência cotidiana, criando um mundo paralelo, onde não existe dor e sofrimento que dure além do fim da história. É um paraíso utópico de finais felizes e propagandas de margarina fantasiadas de cenas espontâneas em mesas de café da manhã. Só não é para nós.

Por “nós”, estou falando dos seres pensantes e relativamente alfabetizados que habitam o planeta Terra, uma parcela em torno de 5,7% da população total.

Tecnologia desesperadora

Por problemas com a tecnologia, perdi o texto de hoje. O problema, na verdade, foi de burrice minha, o papel da tecnologia foi apenas de ser o facilitador para minha própria estupidez. Enfim, perdi o texto quase pronto no qual estava trabalhando, e não tive tempo de escrever outro. Assim, coloco hoje no ar uma minicrônica minha publicada no blog Caixa Preta na sexta passada.


É meio picaretagem? É. Estou orgulhoso disso? Não. Pelo menos espero que gostem da história.

O telefonema

O telefone tocava desesperadamente. Não que isso abalasse Luciana; ela conseguiria ignorar um telefone tocando desesperadamente por horas a fio, a maldita. Como se não bastasse tornar cada dia da minha vida uma luta interna contra meu desejo de abri-la no meio com um facão. Um toque, dois, três, sete. Não agüentei e atendi.

– Alô?
– Matias – respondeu uma voz amigável, porém impessoal.
– Sim?
– Aqui é Deus.
Não respondi. O que responder?

– Quem é, bem? – berrou aquela vaca, lá da sala. Ela sabe como eu ADORO quando alguém fica berrando perguntando quem é enquanto ainda estou no telefone. Ignorei.

– Matias? Está aí?
– Sim, sim. Deus, então?
– Sim.
– Que coisa. Nunca acreditei em você.
– Eu sei.
– Claro que sabe.

– Bem! Quem é? – Sorte de Luciana que eu não ando armado. Continuei ignorando.

– Estou te ligando para retribuir um favor.
– Como assim?
– Uma vez, em 1984, em uma de suas descidas à terra, meu filho Jesus se viu sem onde dormir. Seus avós o acolheram, sem saber quem era. Seus avós e seus pais já morreram, então devo retribuir o favor a você.
– Mas isso tem mais de vinte anos…
– Andei ocupado.
– Entendo… Como funciona, então? Posso pedir qualquer coisa? Se puder, eu queria muito uns quatro centímetros a mais, se é que você me entende.
– Aham. Bom, poderia fazer isso. Mas sugiro outra coisa.
– Diga.
– Sua esposa está com câncer. Nem ela sabe ainda. Tem, talvez, 3 meses de vida.
– De verdade?
– Sim. Vou curá-la, e aí estamos quites. Que tal?

– BEEEEM! QUEM É NO TELEFONE? – veio o grito lá da sala.

– Olha, acho que eu prefiro os quatro centímetros.

It's the end of the world as we know it (and I feel like shit)

Não temos mais medo de holocausto nuclear, e as baratas estão de prova. A idéia que as baratas herdarão a terra depois que nos matarmos com bombas de hidrogênio está mais desatualizada que socialismo. Não desmerecendo nossas amigas artrópodas; tenho verdadeira admiração pela quase imortalidade das baratas. Afinal de contas, as únicas três coisas que matam uma barata são idade, veneno e havaianas.

O que aconteceu, então? A espécie humana compreendeu que não haverá um holocausto nuclear; estamos passando constantemente por milhões de pequenos holocaustos ecológicos diários em nossos rios, florestas e cidades. A ganância e o descaso do ser humano estão matando a terra aos poucos, e nos levando junto. Parece impossível de resolver, não?

Felizmente, há esperança. Proponho uma solução. É um pouco audaciosa, um pouco arriscada, mas acho que vale ao menos ser considerada. Se até criacionismo é considerado razoável por algumas pessoas, minha teoria tem chance. Afinal, para abraçar minha causa, só é necessário um pouco de boa vontade e algum leve distúrbio psiquiátrico, e não o irrefutável retardo mental exigido pelo criacionismo.

A Teoria do Novo Começo

Origens

Há pelo menos 20 anos sabemos o que deve ser feito. Reciclamos, apagamos as luzes quando saímos de casa, fechamos a torneira ao escovarmos os dentes e não jogamos lixo no mato. Aí descobrimos que os governos dos EUA, China e Índia não estão dispostos a ratificarem nenhuma das medidas propostas pelo protocolo de Kyoto. Imagine ser fiel a uma mulher durante 20 anos para depois descobrir que à noite ela trabalha de puta num porto. Nada agradável, não é?

Apesar das tentativas de milhares de hippies cabeludos, o planeta está indo pra merda, e algo precisa ser feito. Agora.

A Teoria

Nós somos a merda da merda. Todas as baratas do mundo não conseguiriam cagar tudo da forma que cagamos. Somos uma praga que deveria ser varrida do planeta. Tendo isso em mente, proponho auto-extinção. O sol ainda vai durar alguns bilhões de anos, o universo, idem. Poderíamos dar a chance de começar de novo para nossa querida Terra.

Se conseguissemos destruir o planeta ao ponto de não ser mais viável a existência da espécie humana, eliminariamos 6,7 bilhões de exemplares do maior erro do acaso genético e evolução (ou Deus, se você é irrefutavelmente retardado). Seria o recall dos recalls. Aos poucos, as baratas que sobrarem poderiam evoluir e dominar a Terra. Talvez elas cuidem melhor do planeta. Ou talvez elas apenas virem pragas egoístas igual a nós, mas com um exoesqueleto. Pelo menos não vão precisar de air bags em seus SUVs.

Como EU posso ajudar?

Quando se trata de salvar o mundo, cada um precisa fazer sua parte. Algumas dicas:

1. Dirija muito. Dê preferência para carros antigos, cujos motores queimem óleo e soltem aquela deliciosa rajada de fumaça preta a cada acelerada.

2. Luzes acesas! Lâmpadas incandescentes são as melhores amigas do consumo desenfreado de energia e combustível. Compre caixas de lâmpadas de 100 watts para os aniversários de seus amigos, são presentes que mostram que você é uma pessoa engajada!

3. Madeira, madeira, madeira. Nada como madeira de alguma árvore amazônica à beira da extinção para realmente fazer uma diferença. Cada uma que cai, é um passo rumo à nossa meta. Contribua!

4. Primeira e última vez. Evite produtos reciclados ou recicláveis, que podem contribuir para a preservação dos recursos naturais do nosso planeta. Sempre pegue um saquinho plástico a mais do que precisa no supermercado, e não se esqueça de jogar latas de alumínio no mar, onde nenhum catador enxerido possa encontrá-las.

5. Finalmente... Mate um bicho! Quem sabe não é aquele que vai ser a gota d'água para o tão aguardado desequilíbrio ecológico? Espécies em extinção, então, valem ouro.

Conclusão

O mais importante é lembrar, cada um deve fazer sua parte. Trabalhando juntos com nossos grandes apoiadores, os governos e empresas de todo o planeta, conseguiremos nossa meta de dar um novo começo à Terra. Um começo limpo e fresco, cheio de esperança. E baratas.

Processo Criativo

Acho fascinante o processo criativo, meu e dos outros.

Pronto, já comecei o post de hoje com uma mentira. Só estou me denunciando porque foi uma mentira para mim mesmo. Não tenho o menor problema em mentir para os outros (ainda mais por formas de comunicação que não exigem contato visual), e mentiria para você quantas vezes fosse necessário para ser engraçadinho. Só que, ao fingir que acho o processo criativo dos outros fascinante, quase menti de forma auto-convincente, e isso não pode.

Começando de novo: acho fascinante meu processo criativo.

Ele depende quase que exclusivamente de cafeína, falta de maturidade e desespero. Tomo um espresso e sinto um desejo incontrolável de chocar, como se isso fosse possível. Nem consigo acreditar que alguém fica chocado com seja lá o que for. Filmes de dálmatas transando com meninas de 8 anos de idade circulam livremente, e falar que qualquer um burro o suficiente para acreditar num pastor evangélico merece ficar sem 10% do salário, é chocante?

De qualquer forma, assim que escolho um tema que vai gerar um monte de comments no meu blog, começa o desespero. O espaço a ser preenchido por palavras unidas para dar forma a tudo que povoa minha mente (idéia assustadora) é gigantesco, tenho certeza sempre que vou desistir antes de acabar. Quando vejo, escrevi tudo que tenho a dizer, e ainda falta meia página.

Entro em pânico. Às vezes penso em algum detalhe para encher lingüiça mais uns 2 ou 3 parágrafos, às vezes enfio uma piada no meio, e hoje decidi escrever essa besteirada toda no começo para fingir que foi escrito antes do texto a seguir. Esperto, né? Só não me perguntem quais os caminhos tortuosos que me levaram a escrever um texto chamado:

Pirocas Negras

Ok, este texto é um campo minado. Antes de colocar duas linhas no papel (na tela, força de expressão), já vejo milhões de armadilhas. Não assino embaixo de nenhuma espécie de -ismo, só discorro sobre idiotices de forma mordaz e divertida (tento, pelo menos). Espero que isso seja o suficiente para evitar um processo.

Vamos começar com o estereótipo sobre negros, que está no âmago da questão: supostamente, negros têm pau grande (não achei nenhum eufemismo, nem acho que caberia). Não sei se procede, e não tenho como averiguar se é verdade ou se é igual o mito que alemã não tem bunda e que italianos são bem vestidos, mas sei que é parte do imaginário coletivo universal.

Pensei sobre o tema, e percebi que está intimamente ligado com a idéia de desejo e expectativa, e a capacidade humana de lidar com frustração.

Imagine por um momento uma cena: Um sujeito branco, está com uma mulher em casa. São duas da manhã, estão sozinhos e ligeiramente embriagados. Tudo certo, tranquilo, o cara, a mulher, vinho, tira blusa, amassa, agarra, tira calça, etc., até que a mulher puxa o pau do cara pra fora, encontra algo razoável, sorri, feliz que o branquelinho não tem pau pequeno e tudo prossegue normalmente. Mas porque? Porque ela não estava esperando nada. Brancos, supostamente, têm paus de tamanho “normal” (seja lá o que for isso); sendo assim, a mocinha estava sem nenhum apego ao desejo de ver uma ferramente volumosa. Ela estava preparada para qualquer coisa, e, quando algo razoável aparece, está tudo bem. Quer dizer, tudo bem bem não está, mas passa.

Agora, a mesma cena, mas, desta vez, um cara negro. Mesma coisa, em casa, sozinhos, amasso, etc., só que, agora, ela não está livre de conceitos pré-estabelecidos. Ela está imaginando um jegue descomunal, uma jibóia assustadora. Está até preparada para suportar a dor, caso seja grande demais.

Mas... e se nosso protagonista afrobrasileiro tiver pau pequeno? Nem precisa ser absurdamente pequeno ou ridículo; na verdade, não precisa nem ser pequeno, só um tamanho normal, na média. Já é o suficiente para tornar a situação super desconfortável, ainda mais se for um esquema one night stand, em que personalidade, inteligência e gentileza não entram na equação. Mesmo que a mulher nem faça questão de algo parecido com uma baguette, ela está apegada ao desejo, e ficará frustrada.

O que quer dizer isso tudo? Quer dizer três coisas.

Primeiro, que as pessoas precisam saber lidar com frustrações de forma saudável. Por isso, tome alguma coisa de uma criança qualquer, de preferência algo que ela ame. Isso vai ensiná-la a lidar com a frustração que perder algo querido gera. Escolha bem a criança, no entanto. Filhos de amigos são ótimos para isso. Principalmente de amigos dos quais você não goste e que prefira nunca mais ver em sua casa.

Segundo, que os europeus escravizaram os africanos porque tinham inveja dos membros negros. Simples assim. A cana de açucar e cacau e bananas e café e todas as outras lavouras que os escravos cultivavam não serviam para nada, era a forma do velho continente de punir aquele povo que ousava ostentar pirocas maiores que as deles. Imagine, uma aristocracia de peruca e maquiagem ficar revoltada por algo que a fazia sentir menos máscula. História é realmente mais estranha que ficção. Tirando aqueles livros de "romance" de banca com homens viris segurando mulheres seminuas na capa. Nada é mais estranho que aquilo.

Terceiro, o processo criativo é engraçado mesmo. Na reta final, percebi que não tenho mais nada a falar desse assunto, mas, por sorte, cheguei ao final do post de hoje. Bom fim de semana, para as únicas duas pessoas que não devem ter largado essa bosta de texto no meio, por puro amor incondicional. Bom fim de semana, pai e mãe!

Casais de Churrascaria

Qualquer coisa é melhor que casal de churrascaria.

Um relacionamento só pode ser interessante e duradouro se os pombinhos se mantiverem em lados opostos da mesa. O vício inicial de sentar um ao lado do outro para poder dar amasso é difícil de ser superado, mesmo quando passa aquela fase do desespero. Depois de alguns anos juntos, acaba que os dois ficam olhando em volta, nunca um pro outro. Em questão de minutos, a conversa morre. Em questão de meses, o saco enche. Em questão de anos, só resta o divórcio. Se você for um romântico dramático, o suicídio. Se você for um romântico pragmático, um homicídio. Afinal de contas, a chance de um assassinato ser resolvido pela polícia brasileira é bem menor do que a chance do advogado de sua futura ex-mulher arrancar seu couro no acordo de separação.

Casais de churrascaria jamais sentam-se um de frente para o outro. Não conversam, só resmungam coisas monossilábicas vagamente na direção do outro. Invariavelmente, o cara pede um chopp e a mulher uma Coca Light com gelo e limão. Ficam um do lado do outro olhando para tudo, menos um pro outro.

A única hora que há qualquer espécie de interação é quando a infeliz da mulher pega uma daquelas bananas fritas, que mais se parecem com um pênis à milanesa, e começa a comer. O homem, aparentemente incomodado pelo fato da sua mulher colocar na boca um imenso pênis marrom, começa a reclamar.

– Que que você tá fazendo?!
– Como assim? – responde a infeliz da mulher, obviamente numa voz lenta e monótona. Mulheres que viram a metade feminina de um casal de churrascaria invariavelmente têm vozes lentas e monótonas, só para não destoar do resto.
– Não pode comer a banana frita, pô!
– Mas eu gosto da banana frita...

Nisso ele revira os olhos, gira a cabeça lentamente de um lado pro outro e faz algum gesto levemente teatral de frustração, tipo esfregar o rosto ou franzir a testa, no caso de algum Juiz do Bom Senso estar observando tudo, com o intuito de mostrar o quão abismado ele está com a estupidez humana e, ao mesmo tempo, procurar apoio de alguém, talvez deus, talvez o garçom sonolento e entediado, talvez o time de futebol dele, sei lá.

Homens que viram a metade masculina de um casal de churrascaria sempre acham que estão tão certos que qualquer um apoiaria sua frustração com o desobedecimento (pior, desconhecimento) de uma das regras mais óbvias da vida humana. No universo do marido cagador de regra, Não Comerás a Banana Frita da Churrascaria deveria ser o 12º mandamento, logo após Não Interromperás a Fórmula Um No Domingo.

– Não importa. É asim que eles ganham dinheiro!
– Como assim?
Já imagina o tom de voz, né?
– É vendendo banana frita a preço de picanha que esses lugares arrancam nossa grana!
Detetive Fulano Average, à beira de desmascarar a grande conspiração das churrascarias de rodízio. Pelo menos alguém está lutando contra a ganância capitalista desenfreada, que corrompe o seio da família brasileira. O povo, unido, jamais será vencido!
– Mas eu gosto da banana frita…

E por aí vai.

Por aí vai, mas não para por aí. Casais assim sempre reproduzem, e sempre sai igual. Meninos chamados Gui ou Gu, com aquele cabelinho insuportável que parece um capacete e uma mania de correr loucamente entre as mesas do restaurante. Casais de churrascaria não têm qualquer controle sobre o filho, pequeno capeta que um dia vai achar bonito tacar fogo em índios ou espancar travestis.

Já as filhinhas, alegria do papai, chamam-se Carol ou Luciana, são criaturinhas de 9 anos de idade já cobertas de batom, com shortinhos e botinhas e bolsinhas, saracoteando para cima e para baixo como pequenas prostitutas-mirim. Depois ninguém entende o aumento da taxa de gravidez adolescente.

Casais de churrascaria são o average do average. A quintessência da normalidade absoluta, da mediocridade completa. É ele com o churrasquinho no fim-de-semana, ela com o salão no sábado, ele com a pelada com os amigos, ela insistindo na viagem para Guarapari em janeiro. Ele querer que o filho seja engenheiro, ela sonhando com o casamento da filha na igreja, ele comprando um sítio com quadra de peteca, ela fazendo uma plástica por ano depois dos 40.

São os dois aposentando, ficando velhos e gordos, começando a usar fraldas e morrendo, felizes e idiotas. Passando pela vida sem fazer nem uma lasca na delicada e pungente escultura interminável que é a humanidade.

De volta, e pior que nunca.

Desde que decidi voltar com o blog, quebrei a cabeça tentando encontrar o tema perfeito. Um tema polêmico, que permitisse opiniões fortes e superficialmente fundamentadas, nas quais eu nem sei se acredito. Aborto, religião, pedofilia, sexo grupal, política externa do Azerbaijão, esse tipo de coisa.

Pensei em falar de casais de churrascaria, tema interessante mas não bombástico suficiente. Pensei também em falar de padres e coroinhas, mas, realmente, o que há para falar? Padres comem coroinhas, e pronto. Morreu assunto.

Finalmente clicou. Sete de setembro, independência do Brasil, grito do Ipiranga, toda essa besteirada. O tema?

O Brasil

O Brasil é um país peculiar. Habitado por bípedes semi-racionais, é o quinto do mundo em área e população, e o 19º em ordem de países habitáveis (perdendo para Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Japão, Inglaterra, Itália, Suécia e mais 11 países). Mas pelo menos ganha da Uganda e da Colômbia (e do Azerbaijão, seja lá onde isso for).

Já estive envolvido em, pelo menos, 137 discussões com o tema "O Grande Problema do Brasil é…", e cada vez com uma conclusão diferente. Corrupção, educação, burocracia, políticos, flanelinhas, o norte/nordeste, . Toda vez fico impressionado que ninguém chega à essência do problema. É igual discutir religiosidade e fanatismo sem concluir que a raiz do problema é que as pessoas são burras o suficiente para acreditar que existe um homem invisível no céu e que é possível engravidar de um fantasma. Vamos ao que interessa, O problema do Brasil são os brasileiros.

O brasileiro é, supostamente, um povo solidário, criativo, cheio de gingado e com o samba no pé. Bullshit. O brasileiro é egoísta, ganancioso e passivo; retrógrado, ignorante e preconceituoso. Não vou ser ridículo a ponto de fazer aquelas comparações vazias com países de verdade, tipo "Na Suécia, as pessoas não trancam os carros" ou "na Inglaterra a polícia nem precisa carregar armas". Afinal de contas, é só olhar por outro ângulo; a Suécia tem mais alcóolatras que o Japão tem pedófilos, e na Inglaterra volta e meia explodem uma estação de metrô. A vida, em qualquer lugar, tem lá seus lados positivos e negativos. Agora, o Brasil tem algo de especial, já que o grande fator negativo são seus habitantes.

Colonizado por lusitanos, o Brasil nunca foi uma terra de sonhos, rumo à qual colonos partiam em busca de uma vida melhor. Aqui sempre foi uma privada para o lixo europeu, e tudo indica que este gene da merda ainda permeia nossa sociedade.

O Brasil é o país onde as pessoas gostam de levar vantagem em tudo. Proponho, inclusive, mudar a frase de Lei de Gérson para Lei do Brasileiro. Gérson era só um jogador de futebol meio burro (olha o pleonasmo!) que participou de uma campanha publicitária infeliz. O brasileiro é um povo que não tem senso de comunidade, criado num sistema que valoriza e estimula benefício próprio em detrimento ao avanço coletivo. Neste pseudopaís, é motivo de orgulho burlar o sistema para economizar dinheiro ou tempo. A idéia do “não levar desaforo pra casa”, se não é irmã do “jeitinho brasileiro”, é ao menos prima. São princípios originários da idéia do Macho Alfa latino-americano e sua necessidade de auto-afirmação. EU dou meu jeito, EU não aceito isso, EU não espero em fila, EU EU EU.

(Me impressiona tanto individualismo num país que adora ser massificado em quase todos outros aspectos. Um país que se une numa massa coesa para consumir avidamente qualquer lixo cultural lançado pela mídia deveria ter mais senso de coletividade)

Já viu quando você está numa fila de muitos carros para virar à esquerda e alguém vem rasgando pela direita, entrando na frente de todo mundo? Esse é o jeitinho brasileiro, e todos que fazem isso devem morrer. É muita petulância um povo assim reclamar de dirigentes e instituições incompentes e corruptos. Newton Cardoso e Paulo Maluf não brotaram por geração espontânea. Eles são o produto do sistema brasileiro. Eles são o jeitinho brasileiro, o gingado nacional.

O povo brasileiro tem o país que merece.