Cigarette Etiquette

Fumo desde 1995. Regularmente. Sem interrupções, tirando em Agosto de '97, quando fiquei muito gripado, e tive que segurar a onda e não acender um cigarro durante três dias... Além desse breve hiato, os últimos dez anos da minha vida foram uma enorme montanha de tocos de cigarro, acima de uma praia de cinzas, banhada por um mar de fluido de zippo, abaixo de um céu cheio de nuvens ligeiramente azuladas de fumaça de cigarro.

Vou terminar de escrever rápidamente, porque a polícia que fiscaliza metáforas, comparações e imagens visuais de terceira categoria já deve estar com a sirene ligada e pneus cantando, dobrando a esquina... enfim...

Tive altos (1 maço por dia) e baixos (meio maço por dia), mas sempre estive lá, firme e forte no Lucky Strike, exceto por um carnaval que precisou ser inteiro a base de Derby Suave, sobre o qual prefiro não comentar, aliás prefiro nem lembrar, aliás, talvez até apague essa última parte antes de publicar (ou talvez não). Enfim, sempre fumei, e sempre muito.

Até 4 meses atrás.

Claro que não parei de fumar, claro claro claro que não! Mas, por motivos de ordem financeira (3,50€/maço) tive que moderar meu consumo, que acabou caindo para algo em torno de 2-4 cigarros por dia, mais ou menos... Desde então, comecei a pensar muito (eu faço isso de vez em quando, esse lance de pensar, e às vezes acho que é bobagem, penso em parar de pensar, mas quando penso em parar de pensar estou pensando, então não posso parar de pensar, porque se parar de pensar não posso pensar em parar de pensar e pensar como vou fazer para parar de pensar e agora tô com um nó na cabeça, e vou deitar um pouco para espairecer, depois volto e termino esse texto).

Ok, como estava dizendo, comecei a pensar muito sobre o que é fumar, e qual o motivo pelo qual EU fumo. Cheguei a algumas conclusões, sobre cigarros, sobre o ato de fumar e sobre a vida em geral (mentira, é só sobre cigarro e fumar mesmo):

1. Fumar é MUITO bom. Muito bom mesmo. É verdade, e todos os não-fumantes fazendo carinha de nojo e franzindo a testa podem lamber meu cinzeiro agora e pararem de ler, porque este texto não é para vocês. Desejo a todos não-fumantes que adoram pedir para apagar o cigarro e explicar o tanto que faz mal fumar (ainda existem esses idiotas, os instrutores do anti-tabagismo, acredita?), desejo a todos esses uma morte vergonhosa, tipo morrer atropelado por um fumante que não estava prestando atenção na rua, por estar imerso no complexo processo de acender um cigarro no acendedor de cigarros do carro sem causar uma queimadura de terceiro grau no próprio queixo.

2. Fumar é bom porque te dá algo para fazer quando você não tem nada para fazer mas quer parecer que tem algo para fazer e só não quer fazer, porque você quer é fumar. Ficar encostado no balcão de um bar, sozinho, sem ninguém, e conseguir fingir que você QUERIA ficar encostado no balcão de um bar, sozinho, sem ninguém, é uma proeza para poucos, e nenhum desses poucos não fuma, porque é preciso fumar um cigarro encostado no balcão de... bom, deu pra entender, né?

3. Fumar é super Barulhento... um dos grandes prazeres de fumar é mostrar para o mundo que você é FODA! É aproveitar daquela atração proibida que as pessoas têm pela idéia de uso de drogas, sem o inconveniente de encher o braço de picadas, esvaziar sua conta no banco e, eventualmente, morrer de overdose em uma sarjeta imunda na parte mais imunda do bairro mais junkie de Londres (o que até tem um certo charme, mas pouquíssimo glamour ou sex-appeal).

Munido destas novas visões sobre a vida e o cigarro, vou fumar um cigarro agora, com muito mais gosto do que há apenas alguns minutos. Com licença, já volto.

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