A frieza germanica e o calor dos vinhedos do sul italiano

A mãe dos meninos dos quais cuido tem um primo que mora em Stuttgart, com sua adorável esposa e alguns filhotes. Ora, Berlin é uma cidade infinitamente mais interessante que Stuttgart, onde, dizem, o sotaque é terrivelmente incompreensível até para alemães de outras regiões. Sendo assim, o primo achou uma idéia interessante visitar Berlin, durante aproximadamente uma semana, o que gerou um pequeno jantar para o primo e sua esposa, o que, consequentemente, gerou um convite para o Matias que, desesperado por convívio social com pessoas não estudantes de alemão provenientes da Turquia, China e América do Sul, aceitou prontamente.

No começo do jantar, fiquei extremamente confuso; a formalidade dos presentes, (não no sentido e Sie ao invés de du; não uma formalidade linguística, nem formalidade tipo jantar de negócios, mais no sentido de conhecidos vagamente semi-íntimos, nada agressivamente familiar...) me fez duvidar da clareza da comunicação anterior, que estabeleceu ser o sujeito primo de minha empregadora e, durante aquela noite, anfitriã. Após séria consideração, cheguei à conclusão que fossem primos de décimo-oitavo grau, primos mais por convenção do que por sangue, teoria prontamente descartada após um comentário casual estabelecer o pai dele como irmão do pai dela. Talvez ainda tivessem tido pouco contato, pouca intimidade... Claro que sempre há a opção fácil nessas situações, que pouco acrescenta ao meu crescimento espiritual, de achar que esses alemães são uns loucos varridos e foda-se... Mas geralmente tento evitar esse tipo de desistencia tão preguiçosa.

Para meu alívio e deleite, a resposta apareceu, como se, num passe de mágica, a compreensão fosse além da barreira cultural e linguística, como se a essencia humana de cada um se tornasse clara!

Após o consumo de, aproximadamente, 3 garrafas de vinho, por sinal bastante agradáveis (das quais, confesso, consumi minha parte!), o tratamento entre os presentes tornou-se, repentinamente, tão brasileiro que até me assustou um pouco; eu, numa tranquilidade e serenidade alcoólica, e meus anfitriões alemães discutindo casualmente temas de cunho bastante íntimo (com direito a tradução semi-simultanea) e a decibéis latino-americanos, ainda por cima! Claramente, os alemães precisam, mais do que brasileiros, de forte lubrificação social, facilmente disponível nas várias lojas especializadas pela cidade, algumas vendendo vinhos na faixa de 1€ a 250€...

Básicamente, foi uma noite super agradável, mostrando que até esses alemães malucos sabem ficar descontraídos e tranquilos...

No entanto, uma gatinha semi-bebada que sentou na minha frente no metro uma madrugada dessas pra tras durante uns 40 minutos recusou estabelecer qualquer tipo de relação mais próxima do que uma troca de olhares acidental a cada 5 minutos, aproximadamente... Próxima semana vou escrever sobre o olhar (ou falta de) nos berlinenses, mas com uma história atípica e interessante junto...

Deixo-os com um aviso, um alerta sobre tentar falar em alemão com gatinhas trabalhando em bares de boates barulhentas: Pedir "Wasser" (água) é, sonoramente, muito parecido com pedir "Weiß Bier", pelo menos para cordas vocais pouco versadas na pronúncia alemã, e a vergonha de explicar para aquele sorriso lindinho que Sua Anta, Voce Errou! gera uma situação impossível, a de tentar parecer super cool e blasè encostado num canto na parede com um copão de meio litro de cerveja na mão.

Sugiro falar "Hi, do you speak english? yes? ok, can I have some water, please?"

Funciona BEM melhor...

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