Überfrauen e a sexualidade berlinense

Cheguei a um dilema interessante, dividido entre tres possibilidades.

Desde os meus primeiros dias aqui, notei que Berlim é povoada, em parte, por uma raça nao muito abundante no mundo todo que, aqui, chamaremos de überfrau, por falta de nome melhor e, em parte, usurpando e deturpando a definiçao de mulher superior, criada pelo meu prezado amigo Dr. Carlos Alberto Cimini, vulgo DJ CiMiNi.

É uma espécie razoávelmente abundante em Berlin, criaturas verdadeiramente abençoadas pela natureza, observando o mundo do alto de seus 175 a 180 centímetros, através de enormes olhos azuis, instalados, apropriadamente, na mais impecavelmente macia pele, de tom puro e alvo, quebrado apenas por lábios milimetricamente perfeitos, visual e (imagina-se) funcionalmente... Natural que o resto da embalagem seja tao dolorasamente perfeito, inclusive detalhes indumentários, cuidadosamente planejados e executados. Como me disse uma vez alguém mais sábio que eu, a Santa Trindade da perfeiçao feminina é Charme, Estilo e Sofisticaçao. Além de personificarem tal trindade, minhas queridas ninfas urbanas sao etéreas, angelicais. Confesso que até hoje nao vi sequer um pé tocar o chao, apenas flutuar graciosamente acima do mesmo.

Minha reaçao, depois de longa, silenciosa e afastada admiraçao, é de, digamos, observar sem pudor e restriçoes todos os mais íntimos detalher destes exemplares fantásticos da espécie humana, para nao falhar em minhas inspeçoes acerca da natureza humana. Algo que as absolutamente inabaláveis obras primas da natureza ignoram com uma superioridade natural e instintiva. Mas realmente fiquei intrigado quando percebi estar praticamente sozinho em minha (franca e aberta) admiraçao por tais capolavori de humilhar qualquer artista, fenomenos que fui incapaz de compreender!

Comecei, entao, a observar, por curiosidade, meus colegas de genero, tentando entender qual a razao pela qual me sinto como um recém-chegado numa ilha exótica repleta de belezas naturais indescritíveis pelas quais os nativos tem uma atitude relaxada e blasè, pela longa exposiçao. Percebendo a falta quase absoluta de, digamos, "Übermänner", que, naturalmente, sao imunes aos encantos de überfrauen, cheguei a tres possibilidades que dividem meus pensamentos:

Primeiro, a pouco provável hipótese de que todos os alemaes sao umas bichas. Tal hipótese, além de politicamente incorreta, peca por dois principais motivos, o óbvio, que seria a perpetuaçao da espécie, fenomeno que claramente ocorre, e o mais sutil, que é a falta de observaçao em massa de indivíduos do sexo masculino por outros indivíduos do sexo masculino.

A segunda hipótese já tem uma base empírica mais forte; seria esta que todos os homens berlinenses sao ou decididamente assexuados ou plenamente saciados sexualmente, o que, certamente, explicaria a grande quantidade de energia disponível para trabalho e produçao industrial e intelectual geradas aqui. Sem a preocupaçao constante de satisfazer os instintos mais primários da espécie humana, nao é de se admirar a eficiencia e a precisao do povo germanico.

Apesar de nao perceber graves falhas teóricas ou empíricas na segunda hipótese, confesso que sinto-me instintivamente mais inclinado a concordar mais com minha terceira explicaçao, uma análise mais metafísica e intrinsicamente humana: a auto-defesa e o poder da negaçao.

Como, obviamente, as überfrauen sao, em absoluto, inatingiveis e, eu diria, quase alheias à existencia de outros seres humanos no planeta terra, a populaçao masculina inteira de Berlim prefere fingir que elas nao existem, para nao correrem o risco de, metaforicamente, apaixonarem-se pela lua.

Além do charme poético de tal especulaçao, ela ainda reforça minha premissa básica de que as überfrauen nao reproduzem para gerarem mais überfrauen (isto seria tao comum! talvez até baixo...) Pelo contrário, elas surgem por graça da natureza, geradas quando o tépido sol germanico ilumina as primeiras gotas de orvalho pela manha, formam-se nas nascentes mais puras e cristalinas, escoando e tomando forma até chegarem à civilizaçao, já cobertas por uma aura protetora que, assim como seus cabelos perturbadoramente dourados e macios, as diferenciam de nós, mortais, admiradores.

ou algo assim, sei lá